Solidão na adolescência: relação com vivências emocionais na infância e adolescência e qualidade de vida

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Data
2020
Autores
Ferreira, Joana Filipa Guilherme
Cunha, Marina (Orientadora)
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Editora
ISMT
Resumo
Introdução: A solidão refere-se a uma experiência subjetiva multifacetada, que não se restringe apenas ao isolamento social, já que o indivíduo pode sentir solidão no meio de uma multidão, ou pode estar sozinho sem se sentir só. Durante a adolescência, os sentimentos e as emoções tendem a ser hipervalorizadas, podendo contribuir para problemas emocionais e sociais na vida do jovem, entre os quais vivências de solidão. A literatura tem mostrado que diversos fatores, como experiências emocionais no seio familiar e com os pares, podem estar associadas a sentimentos de solidão e comprometer a qualidade de vida. Objetivos: O presente estudo teve como principal objetivo contribuir para a compreensão da solidão na adolescência, testando o modelo preditor formado pelas memórias emocionais positivas e negativas no seio familiar, as experiências de vergonha, os sentimentos de ligação aos outros e a qualidade de vida. O contributo único e independente de cada uma destas variáveis foi analisado na explicação preditora da solidão. Adicionalmente, pretendeu-se analisar o papel do sexo, idade e da participação numa atividade extracurricular (desporto, por exemplo) na manifestação da solidão. Métodos: A amostra foi constituída por 200 indivíduos, 137 (68,5%) do sexo feminino e 63 (31,5%) do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos a frequentar o ensino básico e secundário. Os participantes preencheram uma ficha de dados sociodemográficos e completaram 6 instrumentos de autorresposta que avaliaram memórias precoces de calor, segurança e afeto (EMWSS-A), memórias emocionais negativas precoces (ELES-A), sentimentos de solidão (UCLA), sentimentos de proximidade e ligação aos outros (EPLO), qualidade de vida (Kidscreen-10) e vergonha externa e interna (EVEI-A). Resultados: Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, relativamente à solidão. A idade mostrou uma associação positiva fraca com os sentimentos de solidão. Os adolescentes com uma atividade extracurricular não demostraram menos sentimentos de solidão, comparativamente aos que não realizavam qualquer atividade fora da escola. A solidão correlacionou-se negativamente com as memórias de calor e segurança, com a ligação aos outros e com a qualidade de vida. Inversamente, apresentou uma associação positiva com as memórias negativas da infância e com a vergonha. O modelo preditor explicou 47% da variância da solidão, tendo todos os preditores um efeito significativo, à exceção das memórias precoces de calor e segurança. A vergonha, no geral, foi a variável que mostrou um valor preditor mais elevado, seguindo-se as experiências negativas precoces, a qualidade de vida e os sentimentos de proximidade e ligação aos outros. Conclusão: O presente estudo contribuiu para o alargamento da investigação da solidão na adolescência, tendo em conta experiências emocionais (positivas e negativas), na infância e atuais, bem como um indicador de qualidade de vida. Os dados permitiram explorar de que modo os jovens experienciam sentimentos de solidão e, de que forma podem estes sentimentos ser prevenidos ou mitigados. Intervenções em contextos de saúde ou em meio escolar, que visem diminuir vivências de vergonha (sentimentos de fracasso, desvalorização, de inferioridade) e promover sentimentos de ligação aos outros (através de emoções positivas em situações de interação social), bem como proporcionando atividades extracurriculares (e.g., atividade de grupo, desportivas, interesses musicais) poderão dar um contributo na diminuição dos efeitos nefastos da solidão. / Introduction: Loneliness refers to a subjective and multifarious experience, which is not restricted only to social isolation, as an individual may feel lonely in the middle of a crowd or may be alone without feeling lonely. During adolescence, the feelings and emotions tend to be overvalued, which can contribute to emotional and social problems in the young person’s life, such as experiences of loneliness. Literature has demonstrated that numerous factors, like emotional experiences in the household and with peers, may be associated with feelings of loneliness and compromise quality of life. Objectives: The main objective of this study was to contribute to the understanding of loneliness in adolescence, by testing the predictive model formed by the positive and negative emotional memories in the household, shame experiences, the feelings of connecting with others and quality of life. The independent and particular contribution of each of these variables was analysed in the predictive explanation of loneliness. Additionally, there was an intent to analyse the role of the sex, age and participation in extracurricular activities (for instance, sports) in the manifestation of loneliness. Methods: 200 individuals were included in this study. 137 (68.5%) of them were female and 63 (31.5%) were male. Age ranged from 12 to 19 years old and all individuals were attending either primary school or high school. Every participant filled a sociodemographic data document and completed all the six instruments that evaluated early memories of warmth and safeness (EMWSS-A), early negative emotional memories (ELES-A), feelings of loneliness (UCLA), feelings of proximity and connection towards the others (EPLO), quality of life (Kidscreen-10) and internal and external shame (EVEI-A). Results: Regarding loneliness, no statistically significant differences were found among gender. Age showed a weak association with the feelings of loneliness. Teenagers with an extracurricular activity showed no less feelings of loneliness when compared with those who do not engage an extracurricular activity. Loneliness is negatively correlated with early memories of warmth and safeness, connection towards the others and quality of life. Contrastingly, it reported a positive association with negative childhood memories and with feeling of shame. Our predictive model explained 47% of the loneliness’s variance, and all the predictors, except for early positive memories, uncovered a significant effect. Generally, the shame variable demonstrated the highest predictive value, followed by the early negative experiences, quality of life and feelings of proximity and connection towards the others. Conclusion: The study herein described has contributed to further existing research regarding loneliness in adolescence, taking into account both childhood and current emotional experiences (positive or negative), along with a quality of life indicator. The data gathered made it possible to explore the ways in which children experience feelings of loneliness and how to either prevent or mitigate these feelings. Both clinical and school-based interventions that aim to decrease episodes of shame (feelings of failure, devaluation, inferiority) and promote a feeling of connection to others (though positive emotional experiences within a social interaction environment), as well as providing extracurricular activities (i.e. group gatherings, sport activities, musical interests) may contribute to reducing the harmful effects of loneliness.
Descrição
Palavras-chave
Solidão - Loneliness, Adolescência - Adolescence, Memórias emocionais precoces - Early emotional memories, Ligação aos outros - Connection towards others, Qualidade de vida - Quality of life, Vergonha interna - Internal shame, Vergonha externa - External shame
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